2011

SPEAK | FALA > Prêmio no concurso internacional VIDA 13.2

Fundação Telefônica anuncia os ganhadores do concurso internacional de arte e vida artificial VIDA 13.2

Parabéns ao casal de artistas brasileiros Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti premiados no concurso internacional VIDA 13.2 na modalidade de Incentivos à produção com a obra SPEAK.

Fundação Telefônica anuncia as obras ganhadoras do concurso internacional VIDA 13.2, concurso que se tornou um referente mundial na investigação artística da vida artificial. O júri internacional composto pela Diretora de VIDA Mônica Bello Bugallo (Espanha), Jens Hauser (Alemanha/França), Karla Jasso (México), Saily-Jane Norman (Inglaterra), Simon Penny (Estados Unidos/Austrália), Neil Tenhaff (Canadá) e Francisco Serrano Martínez (Diretor Geral da Fundação Telefônica), selecionou os ganhadores desta edição entre os 198 projetos apresentados por artistas procedentes de 36 países.

Nesta edição dos prêmios VIDA destacou-se, especialmente, a participação da Espanha com 51 projetos, México com 18, Argentina e Brasil com 17 e Estados Unidos com 16. Além disso, o concurso recebeu, pela primeira vez, participações de artistas procedentes do Chipre, Croácia, Estônia e Tajiquistão.

Os projetos premiados nesta edição conjugam algumas das formulações clássicas da disciplina vida artificial com os desenvolvimentos mais revolucionários em ciências biológicas e meio ambiente. Destaca-se, entre os vencedores, o eclético das propostas, o interesse dos processos criativos distribuídos e abertos, a experimentação com complexas simulações nos ambientes virtuais e na rede, as possibilidades de experimentação com sistemas vivos dinâmicos e a aplicação de novas estratégias formais por meio da performance e do desenvolvimento através do protótipo. 

Naked on Pluto

Naked on Pluto

Os criadores de Valk, Mansoux e Dave Griffths (Holanda/Inglaterra) obtiveram o primeiro lugar de VIDA 13.2 com Naked on Pluto, game online que reflete sobre os meios invasivos com os quais se constrói o "software social". O jogo se coloca em andamento quando o usuário se registra na página do projeto e tem acesso a uma cidade denominada "Elastic Versailles" na qual se anima uma comunidade de cinquenta e sete "bots" de vida artificial que interagem com o jogador, capturando os dados de sua conta no Facebook. Dessa forma tem início um intercâmbio textual entre jogador e sistema, no qual os "bots" mesclam e confundem dados, rostos, perfis, gerando um conjunto de relações extremamente familiares. A complexidade do intercâmbio aumenta à medida em que o jogo avança. O jogador só pode se libertar da perseguição dos "bots" mantendo resistência e esperando o momento no qual os recursos destes se esgotem ou a lógica da trama não tenha mais sentido. Naked on Pluto expõe os mecanismos que nos levam a ser protagonistas de uma realidade simulada enganosa, habitual nas redes sociais, e que está cobrando importância nos hábitos sociais contemporâneos.

Ocular Revision

Ocular Revision

Ocular Revision, do artista norte-americano Paul Vanouse, ficou com o segundo lugar no concurso VIDA 13.2. Trata-se de uma instalação composta por duas imagens circulares simétricas da Terra similares às vistas de satélite e que servem para examinar a noção de "mapas genéticos". Nas imagens se insere o DNA da bactéria E. coli por meio de um sistema de eletroforese realizado especificamente para a obra, que se situa no centro da instalação. Duas imagens idênticas mostram o movimento do gel ao longo do perímetro dos mapas circulares, de modo que os segmentos do DNA que se dispõem em imagens se assemelham ao traçado dos continentes na representação do planeta. O projeto reflete sobre as variações que se dão no seio das ciências da vida entre os períodos denominados biológicos e pós-biológicos, sendo o primeiro aquele que define a célula como unidade básica da vida, e o segundo o que deriva sua atenção a um componente no vivo, o DNA, que se avalia como código mais do que como substância material. O artista considera que não se trata de uma apreciação de escala, mas de uma mudança substancial em quanto à visão da vida orgânica e, portanto, uma alteração cultural, um tema que já havia sido tratado pelo artista em Relative Velocity Inscription Device, em VIDA, no ano de 2002.

Protei

Protei

Protei é a obra do artista e promotor do projeto César Harada (Japão/França) que obteve o terceiro lugar de VIDA 13.2. O objetivo de Protei é o desenvolvimento e a produção global, distribuída e interdisciplinar de uma série de embarcações autônomas que contam com uma estrutura que atua em caso de catástrofe no meio ambiente e, em especial, em casos de derramamento de petróleo. Iniciada depois do desastre ecológico Deepwater Horizon, a equipe de Protei tem previsto disseminar esses mecanismos nos mares de todo o mundo, como tomada de consciência e aliança global que favoreça o cuidado e a limpeza de materiais poluídos e lixo. O projeto ilustra a preocupação global acerca das recorrentes catástrofes no meio ambiente provocadas pela ação do homem, mostrando a confluência da ciência, design, arte, ativismo no meio ambiente e uma ética de código aberto que busca, na aliança interdisciplinar, um modo de melhorar nosso entorno.


Os prêmios principais são acompanhados de sete Menções Honrosas que, neste ano, correspondem aos seguintes projetos: 

That Which Lives in Me, de Bulatov e Chebykin (Rússia);
Zoanthroid –a Hybrid Entity, a Technile Organism, de Hardmood Beck (Alemanha);
Oh!m1gas: biomimetric stridulation environment, de Shen (Equador);
Intelligent Bacteria: Saccharomyces Cerevisiae Togar Abraham, Nur Akbar Arofatullah, Agus Tri Budiarto e Vincensius Christiawan (Indonésia);
Back, here, below, formidable [the rebith of prehistoric creatures], Humeau (França);
Growth Pattern, de Kudla (Estados Unidos);
Transducers, de Verena Friedrich (Alemanha).

Na modalidade de Incentivos à Produção, que apoia projetos sem desenvolver de artistas que trabalham na Espanha, em Portugal e na América Latina, foram premiadas as propostas:

Concerto fotosintético, Pin Lage (España);
Faith (Molding Faith - The Shape of the Signifier), Czibulka e Ivor Diosi (Espanha/Eslovênia);
Institute for the Studies of Biological Enigmas-Mar Menor Research, de Clara Boj Tovar e Diego Diaz García (Espanha);
Territorio Exquisito, deía Pía Vásquez Cepeda (Chile/México);
Pixel Bite, de Suárez Bárcena (Espanha);
SPEAK, do casal de artistas Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti (Brasil).

 Link extraído do portal TecnoArteNews no dia 03 de Novembro de 2011, às 12h00
 - Via Fundación Telefonica

DASARTES AGO/SET 2011

Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti

© Infinito ao Cubo

© Infinito ao Cubo

“Imagine entrar em uma máquina ótica que reage às variações da luz do ambiente e à presença do observador.” (Do vídeo feito pelos artistas sobre a obra Infinito ao Cubo)
“Imagine pisar em uma chapa de aço e produzir uma onda que, ao se deslocar, levante quem ou o que estiver em cima dela.” (Do vídeo feito pelos artistas sobre a obra Piso)
Imagine sentir.

A dupla de artista Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti potencializa arte e tecnologia em interfaces áudio-tátil-visuais capazes de proporcionar experiências sensoriais e cognitivas em que o visitante é o agente ou o motor da obra. Não existe o espectador, mas o “interator” ou o usuário de suas criações. As duas citações acima se referem respectivamente às obras Infinito ao Cubo e Piso, e, como todo trabalho da dupla, nasceram da abordagem de um conceito inicial. A partir deste conceito, os artistas desenvolvem dispositivos que possibilitam estimular diferentes mecanismos multissensoriais de interação e de imersão.

“Discutimos a questão da magia e da ciência. A maioria dos projetos são sistemas abertos, para que as pessoas possam descobrir o mecanismo das obras. Cada vez que explicamos esses mecanismos, ao invés de quebrar o truque da obra, ela se torna ainda mais cativante. Quem não se encanta ao abrir um relógio e ver o mecanismo dele funcionando? Às vezes é mais bonito que o próprio relógio.” – afirma a dupla.

A obra Túnel, exposta na mostra Agora Ágora, no Santander Cultural (de 26 de maio a 7 de agosto, Porto Alegre), é formada por uma sequência de 92 frames de alumínio que emolduram uma estrutura de seis metros. À medida que se caminha pela instalação, o interator desestabiliza aquele ambiente ao mesmo tempo em que gera, por um jogo de reflexo, uma imagem cubista de si próprio. Sua estrutura foi construída de forma que a obra responda a cada deslocamento dos usuários, trazendo o corpo do visitante para o centro do trabalho.
“O corpo é o agente ou o motor de nossas obras. Se você não interage com ela, nada acontece. Ela não funciona sozinha.” – diz Crescenti.

Infinito ao Cubo começou a ser estudado em 2005 e é o primeiro trabalho conjunto de Cantoni e Crescenti. Constituída de uma caixa quadrada de três metros suspensa por quatro molas, a parte externa é toda espelhada, refletindo tudo à sua volta. A parte interna, também revestida por espelhos, cria reflexões infinitas em todas as direções. O interator, dentro do cubo, experimenta a instabilidade daquele ambiente sobre molas ao mesmo tempo que vê sua imagem reproduzida ao infinito entre as linhas de um caleidoscópio virtual, formado pelo reflexo da fresta de três centímetros que distancia as paredes que formam a caixa. O infinito é vivenciado dentro do espaço pequeno e fechado do cubo. Uma contradição rica em sensações e quebras de paradigmas, proporcionando uma nova ideia de dimensionalidade.

“A sensação de um espaço fechado que explode ao infinito faz pensar a dimensionalidade. A compreensão do infinito é possível. Infinito ao cubo é apenas matematicamente impossível.” – comentam os artistas.

Infinito ao Cubo já participou de exposições em São Paulo, na Holanda, no México e na Espanha. Neste ano, recebeu a menção honrosa do Prix Ars Electronica.
A mais complexa criação dos artistas é a obra Solar, que consiste em uma instalação capaz de simular a incidência da luz do sol sobre a Terra. Por meio da voz e dos pés, o interator informa a posição geográfica, o dia e a hora em que deseja receber a incidência solar. Um sistema de luz percorre um arco em direção à posição solicitada e fornece para o usuário a mesma quantidade de luz que o sol neste tempo-espaço. A instalação utiliza diversos recursos tecnológicos sofisticados: plataforma de posicionamento, paredes de plasmas, sistema de luz, sistema de reconhecimento de voz e sistema de controle lógico. Estes dispositivos começaram a ser abordados a partir de pesquisas relacionadas ao tempo. Os artistas imaginaram uma máquina capaz de fornecer a sensação de calor que a luz do sol irradia em um determinado espaço-tempo: “Para tanto, desenhamos e implementamos Solar, uma instalação robótica, imersiva e interativa que simula qualidades e medidas da luz solar na relação humano/espaço-tempo.”

O processo de criação de cada projeto começa com uma questão inicial levantada pelos artistas. A partir dela, novas perguntas vão definindo os suportes, materiais, teorias e linguagens utilizados na obra. Neste processo, a experiência pessoal de Crescenti e Cantoni são complementares, por isso a criação conjunta é fundamental em seus projetos. Segundo Cantoni, o trabalho conjunto estende os limites do pensamento e da ação individual: “Há um limite para o corpo humano, e a combinatória de diferentes percepções, emoções e habilidades físicas potencializa muito nossa capacidade de processar e interagir com o mundo, com as pessoas, com as máquinas, com as ideias.”

Rejane Cantoni é pesquisadora de sistemas de informação. Com pós-doutorado em cinema, rádio e televisão pela USP, é também doutora e mestre em comunicação e semiótica pela PUC-SP e mestre em visualização e comunicação infográficas pela Universidade de Genebra, na Suíça.

Leonardo Crescenti é arquiteto formado pela USP. Atua no mercado publicitário como fotógrafo e diretor de fotografia. Realizou treze curtas-metragens que lhe renderam 21 prêmios nacionais e 14 internacionais. Desenvolve projetos em várias mídias e suportes.

“Nossos projetos são teimosias. Nos colocamos um problema e temos que achar soluções interessantes para ele. O projeto artístico é um projeto de vida. Tem que contaminar, abranger sua existência.” (Rejane Cantoni)



Materia extraída do site DAS ARTES (materia original)